domingo, 15 de fevereiro de 2009

Ecopontos: desconhecidos e ineficazes


Sábado, 09 de Agosto de 2008

O Estado de S. Paulo

Ecopontos:desconhecidos e ineficazes

fotos do Ecoponto Barro Branco Cidade Tiradentes

Reportagem visitou 18 dos 30 depósitos de entulho da capital e só encontrou funcionários mal preparados

Mônica Cardoso

"Eco o quê? Nem sei o que é isso." Essa é a resposta quando se pergunta a localização do ecoponto do bairro. Criados para serem depósitos de entulho de pequenas reformas, móveis velhos, podas de árvore e materiais recicláveis, os ecopontos são desconhecidos pela maioria da população. A reportagem do Estado visitou 18 dos 30 ecopontos existentes na cidade de São Paulo e não encontrou ninguém levando qualquer tipo de resíduo - mas, em três postos, encontrou carroceiros levando entulho para descarte. "A falta de divulgação pode ser um dos fatores do pouco movimento. O Departamento de Limpeza Pública (Limpurb) oferece folhetos explicativos, e as subprefeituras poderiam divulgar nos jornais dos bairros", diz Valdecir Papazissis, coordenador do Núcleo Gestor de Entulho.

Mas, se a população quiser se informar, talvez o ecoponto não seja o local adequado. A reportagem foi atendida por funcionários mal preparados, que confundiam a quantidade máxima de material entregue ou não sabiam para onde seria levado o material. Em um dos postos visitados, o atendente disse que vendia os recicláveis para carroceiros, já que nenhuma cooperativa retirava o material. "Eu separo o que pode ser reciclado em um saquinho e vendo por um cafezinho, R$ 3."

Em outro, embora faltassem duas horas para o fechamento, os atendentes se recusaram a receber o material, porque "a chuva entortou o portão, e vai dar um trabalhão para abrir e fechar". A reportagem encontrou um atendente tomando banho e outros alcoolizados em pleno horário do expediente.

"Vamos investigar os casos. Se for funcionário de carreira, será afastado, processado e, caso se comprove a denúncia, ele será exonerado. Esse processo demora até dez dias", disse o secretário-adjunto das Subprefeituras, Ronaldo Camargo.

É bom também ir preparado para encontrar o ecoponto fechado, já que cada um adota um horário de funcionamento. Alguns funcionam nos fins de semana; outros, não. Alguns recolhem pneus; outros, não. "O recebimento de pneus fica a critério de cada subprefeitura. Os pneus são deixados momentaneamente pela Reciclanip, responsável pela coleta, para depois serem levados para os pontos de acumulação", diz Papazissis. Ele adverte que os pneus devem estar cobertos e depositados em um contêiner, para evitar o acúmulo de água e possíveis focos de dengue. Mas a reportagem se deparou com dezenas de pneus formando uma pirâmide.

Os dois primeiros ecopontos foram inaugurados no fim da gestão de Marta Suplicy, na Mooca e em Pinheiros. A atual gestão ampliou esse número. Nesta semana, a Prefeitura inaugurou o 30º ecoponto no Parque São Lucas, na zona leste, e pretende fechar o ano com até 40 novos postos. A meta é que cada um dos 96 distritos tenha um ecoponto até 2010.

A gestão é compartilhada: a implantação fica com o Limpurb, que libera os recursos para a subprefeitura fazer a licitação da obra. O custo médio para implantar um ecoponto é de R$ 95 mil. Já a subprefeitura gasta com as despesas mensais do ecoponto da sua região, como água, luz e telefone, o que varia de R$ 300 a R$ 400. A fiscalização também é feita pelos dois órgão.

O que são ecopontos

Os ecopontos aceitam entulhos (restos de pequenas reformas), madeiras, móveis velhos, podas de árvore e materiais reciclados

Pode ser entregue até 1 metro cúbico de material, o que equivale a 1,2 tonelada ou uma caixa d’água de 1 mil litros ou 25% de uma caçamba

A quantidade de material entregue está aumentando. Em julho, foram removidos 5,1 mil m³. Em junho, esse total era de 4.080 m³

Do total removido, 50% é material volumoso, como móveis e madeira, 40% é entulho, 10% é reciclável

Como cada ecoponto tem 4 caçambas, a estimativa é de 120 caçambas em todas as unidades. Cada caçamba custa cerca de R$ 1,5 mil

Os materiais volumosos que não são aproveitados vão para o aterro CDR Pedreiras, na zona norte. Quem faz o transporte são Construfert Ambiental, Paulitec, Qualix, Unileste e Delta Construções

Os entulhos vão para os aterros sanitários de Nova Cumbica, em Guarulhos, Brasilândia, na zona norte, e Parelheiros, na zona sul

Os reciclados são transportados para as 15 centrais de triagem cadastradas no Limpurb

As despesas com água, energia, aluguel e transporte das centrais chegam a R$ 370 mil por mês

O Limpurb paga aluguel mensal de R$ 250 mil pelos dez caminhões poliguindastes das empresas Corpotec e Martas, que transportam o entulho. O Limpurb também atua na fiscalização de caçambas irregulares

O Limpurb gasta cerca de R$ 96 mil para implantar um ecoponto

A subprefeitura tem uma despesa mensal com água, energia elétrica e telefone de R$ 300 a R$ 400 com cada ecoponto local

Hoje são 30 ecopontos, mas a Prefeitura quer chegar a 40 unidades até o fim do ano. A meta é ter presença nos 96 distritos

Nas unidades, abandono e roubos

Aqui é assim mesmo. Vivem entrando para roubar?, diz funcionário

Se não fossem as duas grandes placas de isopor, colocadas no lugar das janelas, a água do temporal teria entrado na guarita. A caixa d?água também foi roubada. As caçambas para o depósito de entulho foram retiradas, e as baias de alvenaria que abrigavam madeiras, móveis velhos e podas de árvores estão abandonadas. Ao lado do ecoponto, em terreno baldio, moradores jogam o lixo misturado, onde cachorros e pássaros se alimentam. Na base do terreno em declive, uma grande plantação de hortaliças. Crianças jogam bola na Praça Mãe Preta, que um dia deu nome ao ecoponto da Vila Curuçá, desativado há pouco mais de um mês.

"O fiscal falou que pode jogar o lixo aqui no terreno, que a Prefeitura recolhe. Estou aqui há um mês, e o caminhão veio duas vezes", diz o segurança. Depois dos roubos, ele cuida do ecoponto de dia - outros dois seguranças fazem o turno da noite. "Antes, as pessoas colocavam lixo separadinho. Agora, jogam tudo de qualquer jeito." No Ecoponto Alvarenga, na Pedreira, zona sul, uma montanha de lixo se acumula em um canto. "Arrombaram o cadeado e despejaram esse lixo. Mas aqui é assim mesmo. Vivem entrando para roubar", diz o atendente.

Duas unidades que estavam em obras em Cidade Tiradentes nem chegaram a ser inauguradas, por causa dos roubos. "Roubaram o relógio d?água, fios, porta e janela. O ecoponto só tem efetividade se tiver educação ambiental", diz Valdecir Papazissis, coordenador do Núcleo Gestor de Entulho do Limpurb. No posto de Pinheiros, roubaram os fios, e em Santo Amaro, o relógio d?água. Por causa dos roubos, muitas subprefeituras solicitaram apoio da Guarda Civil Metropolitana.

O secretário-adjunto da pasta das Subprefeituras, Ronaldo Camargo, diz que não sabia dos casos e que vai checar com as subprefeituras. "Crime de roubo ou furto de qualquer patrimônio público é inafiançável."

CENTRAIS

Teoricamente, a coleta dos reciclados deveria ser feita pelas 15 centrais de triagem cadastradas pelo Limpurb. Para tanto, a empresa paga R$ 370 mil por mês com as despesas com aluguel, energia elétrica, água e transporte, com a locação de três caminhões para cada central. A Prefeitura também cede equipamentos como esteira, prensa, fragmentador de papel e balança.

No entanto, não há controle de quantas e quais centrais de triagem recolhem os materiais dos ecopontos. "Como o material reciclável é pouco, geralmente as duas concessionárias que atuam na cidade, Ecourbis e Logam, levam para uma central", diz Vagner Taveira, coordenador da coleta seletiva do Limpurb. Embora o material tenha de ser destinado para as centrais de triagem, uma cooperativa recolhe os recicláveis do Ecoponto de Perus. "Tem de ver qual foi a tratativa que a Subprefeitura de Perus fez com a cooperativa", afirma Taveira.

Para Paulo Rogério dos Santos, diretor da ONG Pueras, um grupo de gerenciamento de resíduos recicláveis, uma campanha poderia aumentar a quantidade de material reciclado. "Com isso, ganham as empreiteiras, que recebem por tonelada de lixo transportada para os aterros", diz. Segundo o Limpurb, o transporte da tonelada de entulho para o aterro custa R$ 10.

Segundo Santos, que participou da discussão do desenvolvimento do programa, os ecopontos deveriam ser minicentrais de coleta seletiva, fazendo o pré-beneficiamento no local e encaminhando, depois, para as centrais de triagem para a comercialização, já que a venda é feita em grande quantidade.

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