segunda-feira, 5 de julho de 2010

Perguntando sobre a sustentabilidade

 Ricardo Rose

Não sei aonde, li que existem mais de 30 definições de sustentabilidade. Pesquisando e falando com as pessoas, notei que as opiniões sobre o tema estão mais ou menos divididas por grupos, todos com diferentes matizes ideológicos. O diretor da empresa multinacional tem lá a sua própria idéia do que seja a sustentabilidade. Esta, no entanto, é diferente da visão do ambientalista gestor de projetos ambientais, financiados por grandes instituições internacionais. Também diversa é a posição do pequeno empresário, às voltas com a concorrência dos produtos importados e a alta carga tarifária. Outra percepção ainda é a do prefeito da cidade do interior, empenhado em atrair investimentos para seu pequeno município, a fim de gerar empregos.

Nenhum dos profissionais citados acima discordará que sustentabilidade é “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”, conforme define o Relatório Brundtland, publicado pela ONU em 1987.

Todavia, a seu modo cada um julgará mais importante este ou aquele aspecto, necessário para alcançar aquilo que entende como sendo o desenvolvimento sustentado. Todos provavelmente concordarão com o modelo mental dominante do que vem a ser a sustentabilidade: a triple bottom line; algo como “tripla base”, representando a atenção aos aspectos econômicos, ambientais e sociais nas atividades econômicas. Como consequência desta linha de pensamento temos, que se todos cuidarem destes três fatores em suas empresas, ONGs, governos, etc., as sociedades se tornariam sustentáveis - o todo é só a soma das partes.

O raciocínio, porém, é simplista e esquece uma infinidade de interações que existem na sociedade e que estão fora da jurisdição da ONG, empresas ou governo. A consequência deste visão – se fosse possível – é de um mundo formado por enclaves sustentáveis – empresas, projetos de ONGs e as administrações públicas – cercados por um meio social, ambiental e econômico desordenado.

Ao que parece, em relação à sustentabilidade, acabamos nos iludindo com palavras. O próprio enunciado que se tornou clássico “...desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes...” é inconsistente e sujeito a interpretações díspares. Quais “necessidades presentes” devem ser consideradas? Da família americana e européia ou da africana, chinesa e indiana? Daqueles que dispõem de acesso a todos os benefícios de uma sociedade afluente ou dos que passam necessidades? Mas, admitamos que seria possível caminhar para um tipo de associação humana onde estas contradições fossem resolvidas e todos tivessem o suficiente para viver e se desenvolver, de acordo com suas capacidades. Esta sociedade teria que garantir educação, saúde, alimentação e moradia para todos os seus membros, seja através do apoio do estado ou das forças do mercado – só assim seriam asseguradas as mesmas chances de crescimento a todos. A pergunta seguinte é se haveriam recursos suficientes na Terra – alimentos, água, terra, minérios, energia – para que toda humanidade pudesse manter este padrão de vida.

Em caso afirmativo, por quanto tempo? Mas como isso seria possível, utilizando indefinidamente

os recursos naturais “sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”?

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Alguém neste país ainda limpa a bunda com jornal?