quinta-feira, 28 de outubro de 2010

34ª Mostra Internacional de Cinema exibe "Os Desclassificados" de Clery Cunha


Clery Cunha e Milton Roberto





















34ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo
De 22 de outubro a 4 de novembro, acontece em São Paulo a tradicional Mostra Internacional de Cinema. Durante duas semanas, a 34ª Mostra exibe mais de 400 títulos dos mais variados países e de diversas cinematografias que estarão sendo exibidos em mais de 20 espaços, entre cinemas, museus e centros culturais espalhados pela capital paulista. A seleção faz um apanhado do que o cinema contemporâneo mundial está produzindo e das principais tendências, temáticas, narrativas e estéticas produzidas em todo o mund



Na foto acima Milton Roberto com o diretor Clery Cunha do filme "Os Desclassificados"
Fotos: Milton Roberto
Francisco Cavalcante, Milton Roberto, Zé da Ilha e Mister Khan
Olha a barba imensa do  Castor Guerra, ladeado pelo Francisco Cavalcante, presidente da Platéia Filmes e Zé da Ilha
Clery Cunha, Vera Luz e o Celso, Distribuidor. em foto de Milton Roberto
O filme escolhido para a mostra foi "Os Desclassificados"

 Sinopse







Playboy deseja sexualmente a madrasta, amante de um gerente de banco. Para se vingar do adultério da mulher, ele planeja um assalto à agência onde o homem trabalha. O crime fracassa, o playboy é baleado por um policial e os bandidos fogem para um esconderijo. A situação entre eles fica cada vez mais tensa diante do sofrimento do rapaz que agoniza ferido pelos tiros, e da iminente chegada da polícia.
Veja a cópia do site Estranho Encontro : clique aqui para ver a postagem original



"Os Desclassificados" é um filme simples, barato, mas que já guarda todos os elementos que fazem o diretor e sua singela obra um mundo novo a ser redescoberto. Ex-cabo man da Tv Tupi, ator ocasional, Clery foi um daqueles típicos casos de quem se esforçou na carreira, trabalhando em várias funções, aprendendo na prática -- e chegando à direção, com 33 anos, usufruindo de conhecimento suficiente para obter o resultado que desejasse.

No caso de "Os Desclassificados", para o qual também escreveu argumento e roteiro com Darcy Silva, há uma clara superposição de plots: o amor (quase) incestuoso de Berto (o próprio Darcy) por sua madrasta, Lara (Joana Fomm), e a consequência disso: um assalto promovido pelo jovem problemático, que resultará em tragédia.

No relacionamento do enteado com a mãe postiça encontramos explicações para seu comportamento, mas o desenrolar do assalto é a parte mais bem acabada do filme, que, como quase tudo o que Clery realizou, começa morno, evoluindo em frenesi crescente até o desfecho final.

A história ganharia, e muito, com dez ou quinze minutos a mais de tensão erótica e edipiana entre Berto e Lara. Quando o pai de Berto (Araken Patusca) viaja a negócios, os dois ficam sozinhos e saem pela noite em busca de diversão. Então apreciamos uma das obsessões típicas -- e provavelmente lucrativa -- do cinema de Clery Cunha: a de exibir letreiros de boates, motéis e restaurantes em close.

Logo sabemos que a dupla passou pela "Churrascaria Galpão", esticando pelas boates "Le Masque", "La Sexy", a "Chão Cantina", o "Restaurante Kacik", até terminarem em um inferninho, tudo isso ao som de Soul Sacrifice, do Santana -- haja fôlego! Na volta, Berto faz jogo típico de apaixonado, parecem envolvidos um pelo outro, mas o rapaz termina apreciando a madrasta dormindo, fascinado apenas por ela existir.

Sua musa, no entanto, tem um amante (Roberto Batalin), gerente do banco onde a família possui conta. Berto sofre pelo relacionamento aquela espécie de voyeurismohomossexual, masoquista e tão estudado pela psicanálise. E, como sabe que é incapaz de chegar a alguma solução autêntica para o problema, abraça uma postura de vingança infantil, propondo a um grupo de amigos bandidos um assalto para desmoralizar o adversário.

A quadrilha é soberba: além de Berto, percebam que um dos bandidos, Toninho, é o próprio Clery. Outro é Jesse James Costa, figura conhecidíssima da Boca e da malandragem paulistana. O surpreendente Jesse James, aliás, dá um show de interpretação naturalista, lembrando um dos criminosos do clássico italiano "Cani Arrabbiati" -- uma pena que Mario Bava não andasse pela Boca para levá-lo a Roma.

Toninho deixou a esposa grávida (Sônia Garcia), desesperada por ver o marido envolvido em algo que não tem a mínima chance de dar certo. Durante o assalto, um dos bandidos morre. Os sobreviventes desembarcam na casa alugada para esconderijo. Ali, entre idas e vindas, encontram um desfecho para a trama.



À moda de outros realizadores paulistas do período, o roteiro e a direção conseguem uma abordagem universal na narrativa, que independe de onde -- podendo ter sido ambientada em qualquer espaço urbano, sem prejuízo de sua compreensão e consistência. Foi o único filme realizado pelo diretor dessa forma, pois o cinema policial de Clery Cunha é sinônimo de São Paulo e a tragédia de seu espaço urbano. Esquecido e subestimado, a se depender das raras cópias em vhs de seus principais filmes, continuará sendo um autor querido por muito poucos.





filmes, Clery Cunha
Fatais Horas (1987)
A Hora do Medo (1986)
Que Delícia de Buraco (1985)
Tortura Cruel (1980)
Torturadas Pelo Sexo (1976)
O Exorcista de Mulheres (1974)
Pensionato de Mulheres (1974)
Uma Virgem (1973)
UMa Negra Chamada Tereza (1973)
Como Evitar o Desquite (1973)
Como Mulheres Amam Por Conveniência (1972)
Férias in Maridos (1972)
Os Desclassificados (1972)
Um pistoleiro Chamado caviúna (1971)
Idílio Proibido (1971)
Sentinelas do Espaço (1969)
Lampião, O Rei do Cangaço (1964)
Conceição (1960)

Veja a Programação da  34ª Mostra

dia 27/10 - quarta
16h Os desclassificados 
(Brasil, 92min - 16 anos)
direção: Clery Cunha

18h Doctor Chance 
(Docteur Chance, França/Chile, 97min - 14 anos)
direção: F.J. Ossang

20h Programa F.J. Ossang 
(49min)

20h50 Dharma Guns 
(França/Portugal, 93min - 14 anos)
direção: F.J. Ossang









dia 28/10 - quinta
16h Route 132 
(Canadá, 113min - livre)
direção: Louis Bélanger

18h Livro iraniano de receitas 
(Dastoore Ashpazi, Irã, 72min - livre)
direção: Mohammad Shirvani

20h Lá
(Orada, Turquia, 96min - 10 anos)
direção: Hakki Kurtulus, Melik Saracoglu


dia 29/10 - sexta
16h Uma criança abandonada à beira do rio 
(On the riverbank where the childhood was left, Uzbequistão, 99min - 12 anos)
direção: Sabir Nazarmukhamedov

18h Ilha da cova da Moura 
(Portugal, 81min - 12 anos)
direção: Rui Simões

20h Luz teimosa 
(Portugal, 75min - livre)
direção: Luís Alves de Matos


dia 30/10 - sábado
16h O último comandante
(Brasil/Costa Rica, 96min - livre)
direção: Isabel Martinez Artavia, Vicente Ferraz

18h Tikimentary - em busca do paraíso perdido
(Tikimentary - in search of the lost paradise, EUA/Brasil, 80min - 12 anos)
direção: Duda Leite

20h Bi, não tenha medo
(Bi, dung so!, Vietnam/França/Alemanha, 90min - 18 anos)
direção: Dang Di Phan


dia 2/11 - terça
16h O menino-prodígio
(L'enfant prodige, Canadá, 101min - livre)
direção: Luc Dionne

18h China
(Chung Kuo - Cina, Itália, 208min - livre)
direção: Michelangelo Antonioni


dia 3/11 - quarta
16h Kon Kon 
(Chile, 61min - livre)
direção: Cecilia Vicuña

18h Teerã Teerã 
(Tehran Tehran, Irã, 109min - 14 anos)
direção: Dariush Mehrjui, Mehdi Karampour

20h Programa Brasil 3
Geral

(Brasil, 15min)
direção: Anna Azevedo 
Cinemaieutica 
(Brasil, 12min)
direção: Rodrigo Falk Brum 
Pimenta
(Brasil, 13min)
direção: Eduardo Mattos 
Ratão
(Brasil, 20min)
direção: Santiago Dellape 
A conquista do espaço
(Brasil, 15min)
direção: Chico Deniz


dia 4/11 - quinta
16h Norte 
(Nord, Noruega, 90min - 12 anos)
direção: Rune Denstad Langlo

18h Duas vezes mulher 
(2 fois une femme, Canadá, 94min - 16 anos)
direção: François Delisle

20h Vocês todos são capitães
(Todos vós sodes capitáns, Espanha, 78min - 18 anos)
direção: Oliver Laxe[


CLERY CUNHA mudou-se para São Paulo logo após cumprir os estudos secundários. Aficcionado por quadrinhos, seu gosto pelo cinema nasceu ainda na infância, quando assistia a seriados policiais, faroestes e filmes de aventura. Dirigiu seu primeiro filme, o policial Os desclassificados, em 1972. Um ano depois, lança A pequena órfã, melodrama baseado em telenovela produzida pela TV Excelsior. Entre os filmes que dirigiu, destacam-se Joelma 23º andar (1980), marco da indústria cinematográfica paulista, drama sobre o trágico incêndio que assombrou a capital paulista, e O Rei da Boca(1982), clássico da filmografia do diretor, sobre a ascensão e queda de um gigolô. Atualmente, Clery Cunha trabalha no roteiro do filme policial Tiradentes City, Zona Leste SP, com argumento do jornalista Marcelo Coelho.

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