EDUCAÇÃO
O professor tem que ter uma preparação
para uma nova realidade na questão da educação.
Sou professor de matemática, tenho 24 anos de profissão,
especializado pela PUC na formação
de novos professores.
Sempre me atualizo fazendo cursos na USP e PUC.
O Professor tem que ser preparado para receber diversos
tipos de alunos. Criar condições, e até
entendê-lo para tentar resgatá-lo.
Tenho percebido que a matemática precisa mudar a forma de
ensinar e a gente não está conseguindo fazer isso, porque não existe uma
política de progressão continuada, e sim uma promoção automática.
A partir do momento que não há cumplicidade no ensino e
aprendizado, tanto do professor, que vai buscar informações novas para
compartilhar na sala de aula, como do aluno ter a cumplicidade de aprender, e
os pais de cobrar em casa, o pai aprender junto, também se atualizar.
E como a gente vive numa cidade que é um bairro dormitório, os
pais mal têm tempo de dar atenção aos filhos. Então nós temos muitas
dificuldades. Não temos a família.
Aí o professor acaba sendo o pai, o amigo, o irmão.
O professor tinha que ter uma dedicação exclusiva para o
aluno. Para ouvir esse aluno.
Diante desse quadro e de direções não democráticas, que eu
sou a favor de uma gestão democrática, um conselho democrático, resolvi sair da
Cidade Tiradentes. Fui para uma escola em outra região e constatei que a
política era a mesma.
Estou chegando a conclusão que é uma questão administrativa,
também municipal.
Eu pedi remoção para uma EMEFEM que é uma escola de ensino
médio, tentando dar aula, ensinar pelo menos o conteúdo do que se ensina no
ensino fundamental. Os alunos apresentam uma dificuldade porque foram aprovados
automaticamente.
Existe uma política que quando o aluno está muito tempo na mesma
série ele é requalificado. Tenho alunos que estavam na sétima série e foram
parar no primeiro colegial, e tem alunos que foram pro terceiro colegial.
Alunos LA (liberdade
assistida) que estão dando trabalho dentro das escolas e não querem aprender, resolvem classifica-lo para o 3º ano, para se
livrar dele.
Vejo que a escola está deixando de fazer seu papel. Em
vez de ser um lugar que a pessoa vai aprender, virou um campo de batalha.
Todos os dias eu saio de lá cabisbaixo. Quando encosto minha
cabeça no travesseiro fico assim pensando, será que fiz o meu trabalho? Será que
ganhei o meu dinheiro fácil?
Eu ouço muito falar sobre corrupção, mas eu acho que se eu
não denunciasse isso, eu estaria sendo corrupto. Tão corrupto quanto outras
pessoas, eu até fico emocionado com isso, porque eu tenho um grande zelo pelo
povo da Cidade Tiradentes.
Quando eu vim morar aqui em 82, começamos uma luta para
baixar as prestações.
Sou um dos moradores que lutou para termos uma prestação
mais baixa, e eu vim aqui para morar, trabalhar, ajudar o povo e viver bem.
Olho pros meus alunos e vejo que ali tem médicos,
engenheiros, advogados, vereadores e grandes lideranças que nós estamos matando
a cada dia.
Cheguei ao ponto que esse ano deposíto muita esperança na mudança
da gestão desse governo, e espero que a gente consiga retomar, colocar em
prática tudo aquilo que nós começamos há um tempo atrás. Fui assessor do
coordenador de educação da região, conheço todos os equipamentos, conheço
diretores, sei da prática de muitos, e lembro que na nossa gestão a gente
colaborava, ouvia, as vezes não resolvia tudo, mas a gente tinha muita vontade
de conquistar.
Ai eu cheguei a conclusão que se a coisa continuar como está
eu vou pedir exoneração, eu não quero mais ser professor dessa prefeitura
porque é um massacre, a gente vê muita coisa, muito desperdício de recursos.
A gente levanta para trabalhar falando “Meus Deus, o que vou
fazer hoje lá?”
Não sabe, você é uma pessoa improdutiva. Eu não posso virar
as costas porque ali poderia estar meu filho, minha filha, que também foi
vítima de uma escola pública que aprovava automaticamente, mas ainda bem que
elas tiveram uma consciência de estudar,
e tem uma que relata pra mim “Pai, agora estou aprendendo as coisas,
estou na faculdade, estou me alfabetizando.”
Então eu olho pra essas crianças hoje, esses adolescentes e
vejo assim, eu não consigo enxergar uma perspectiva neles, e isso me entristece
muito, eu tive até que tomar remédio para depressão, fui fazer terapia lá no
Servidor Público Municipal.
Quando olho pro meu colega readaptado e vejo ele com grande
potencial pra ensinar e estão lá furando papel, trabalhando na secretaria da escola. Isso me entristece.
E quando vejo certas atitudes nesse governo atual de jogar
toda a culpa em cima do professor, “nunca está pronto, nunca está legal, sempre
precisa aprender alguma coisa”. É um assédio moral, o tempo todo mostrando que
o professor é que é incompetente e na verdade quem são incompetentes são eles
que não sabem administrar, não sabem ouvir a população.
A escola está estagnada. Mas na minha avaliação, que sempre tem que estar avaliando, isso tem
um propósito: Eu acredito que vai haver
uma privatização, mas não uma privatização como tem acontecido, vai ser
uma privatização por dentro.
A educação tem muito dinheiro e eu creio que o Etapa, o
Objetivo, o Positivo, essas empresas de educação, vão querer entrar nas
escolas, então vai ser uma privatização por dentro, vão manter os professores,
eles viram um mero dador de aula.
Então todo esse sucateamento da educação que tem acontecido,
é proposital para privatização, e acredito que é possível a gente resgatar isso
com a ajuda da população, e de quem acredita no nosso trabalho.
O professor não é nada disso que estão falando.
Tem uma política aí que diz: “Vamos premiar os professores,
a escola que tem o melhor rendimento”. Eu não acredito que o professor é
premiado porque ele é um mercenário, ele quer dinheiro, não, a escola pode ter
o melhor resultado porque o professor se empenhou para ter, e os alunos também.
Acredito numa escola onde haja cumplicidade entre professor,
aluno e uma gestão democrática.
Reportagem da Folha divulgou os resultados de uma
pesquisa que aponta falta de professores em 32% das escolas estaduais de São
Paulo, principalmente nas áreas de arte, geografia, sociologia e matemática.
Mesmo com a convocação de professores temporários que sequer fizeram o exame de
avaliação, o problema persiste e muitos alunos já encerraram o primeiro
bimestre sem ter aulas em determinadas disciplinas.
“Por meio de nota oficial, a Secretaria Estadual da Educação
de São Paulo afirmou que o levantamento feito pela Folha é “enganoso”
e não reflete a realidade sobre o quadro de docentes. De qualquer forma, para
aprimorar a rede, disse a pasta, será aberto novo concurso público no próximo
semestre.”
Quem é da rede estadual sabe que esses dados não estão distantes
da realidade. É cada vez menor o número de docentes disponíveis e até mesmo nos
vestibulares já percebemos o desinteresse dos estudantes por cursos de
licenciatura.
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