terça-feira, 23 de outubro de 2012

O professor tem que ter uma preparação para uma nova realidade na questão da educação.


EDUCAÇÃO

O professor tem que ter uma preparação para uma nova realidade na questão da educação.

Sou professor de matemática, tenho 24 anos de profissão, especializado pela PUC na  formação de  novos professores.
Sempre me atualizo fazendo cursos na USP e PUC.

O Professor tem que ser preparado para receber diversos tipos de  alunos. Criar condições, e até entendê-lo para tentar resgatá-lo.
Tenho percebido que a matemática precisa mudar a forma de ensinar e a gente não está conseguindo fazer isso, porque não existe uma política de progressão continuada, e sim uma promoção automática.

A partir do momento que não há cumplicidade no ensino e aprendizado, tanto do professor, que vai buscar informações novas para compartilhar na sala de aula, como do aluno ter a cumplicidade de aprender, e os pais de cobrar em casa, o pai aprender junto, também se atualizar.
E como a gente vive numa cidade que é um bairro dormitório, os pais mal têm tempo de dar atenção aos filhos. Então nós temos muitas dificuldades. Não temos a família.
Aí o professor acaba sendo o pai, o amigo, o irmão.

O professor tinha que ter uma dedicação exclusiva para o aluno. Para ouvir esse aluno.
Foto: Maria Amélia Portugal

Diante desse quadro e de direções não democráticas, que eu sou a favor de uma gestão democrática, um conselho democrático, resolvi sair da Cidade Tiradentes. Fui para uma escola em outra região e constatei que a política era a mesma.

Estou chegando a conclusão que é uma questão administrativa, também municipal.

Eu pedi remoção para uma EMEFEM que é uma escola de ensino médio, tentando dar aula, ensinar pelo menos o conteúdo do que se ensina no ensino fundamental. Os alunos apresentam uma dificuldade porque foram aprovados automaticamente.

Existe uma política que quando o aluno está muito tempo na mesma série ele é requalificado. Tenho alunos que estavam na sétima série e foram parar no primeiro colegial, e tem alunos que foram pro terceiro colegial.
 Alunos LA (liberdade assistida) que estão dando trabalho dentro das escolas e não querem aprender,  resolvem classifica-lo para o 3º ano, para se livrar dele.

Vejo que a escola está deixando de fazer seu papel. Em vez de ser um lugar que a pessoa vai aprender, virou um campo de batalha.

Todos os dias eu saio de lá cabisbaixo. Quando encosto minha cabeça no travesseiro fico assim pensando, será que fiz o meu trabalho? Será que ganhei o meu dinheiro fácil?

Eu ouço muito falar sobre corrupção, mas eu acho que se eu não denunciasse isso, eu estaria sendo corrupto. Tão corrupto quanto outras pessoas, eu até fico emocionado com isso, porque eu tenho um grande zelo pelo povo da Cidade Tiradentes.
Quando eu vim morar aqui em 82, começamos uma luta para baixar as prestações.
Sou um dos moradores que lutou para termos uma prestação mais baixa, e eu vim aqui para morar, trabalhar, ajudar o povo e viver bem.

Olho pros meus alunos e vejo que ali tem médicos, engenheiros, advogados, vereadores e grandes lideranças que nós estamos matando a cada dia.

Cheguei ao ponto que esse ano deposíto muita esperança na mudança da gestão desse governo, e espero que a gente consiga retomar, colocar em prática tudo aquilo que nós começamos há um tempo atrás. Fui assessor do coordenador de educação da região, conheço todos os equipamentos, conheço diretores, sei da prática de muitos, e lembro que na nossa gestão a gente colaborava, ouvia, as vezes não resolvia tudo, mas a gente tinha muita vontade de conquistar.
Ai eu cheguei a conclusão que se a coisa continuar como está eu vou pedir exoneração, eu não quero mais ser professor dessa prefeitura porque é um massacre, a gente vê muita coisa, muito desperdício de recursos.

A gente levanta para trabalhar falando “Meus Deus, o que vou fazer hoje lá?”
Não sabe, você é uma pessoa improdutiva. Eu não posso virar as costas porque ali poderia estar meu filho, minha filha, que também foi vítima de uma escola pública que aprovava automaticamente, mas ainda bem que elas tiveram uma consciência de estudar,  e tem uma que relata pra mim “Pai, agora estou aprendendo as coisas, estou na faculdade, estou me alfabetizando.”
Então eu olho pra essas crianças hoje, esses adolescentes e vejo assim, eu não consigo enxergar uma perspectiva neles, e isso me entristece muito, eu tive até que tomar remédio para depressão, fui fazer terapia lá no Servidor Público Municipal.

Quando olho pro meu colega readaptado e vejo ele com grande potencial pra ensinar e estão lá furando papel, trabalhando na secretaria  da escola. Isso me entristece.
E quando vejo certas atitudes nesse governo atual de jogar toda a culpa em cima do professor, “nunca está pronto, nunca está legal, sempre precisa aprender alguma coisa”. É um assédio moral, o tempo todo mostrando que o professor é que é incompetente e na verdade quem são incompetentes são eles que não sabem administrar, não sabem ouvir a população.

A escola está estagnada. Mas na minha avaliação,  que sempre tem que estar avaliando, isso tem um propósito: Eu acredito que vai haver  uma privatização, mas não uma privatização como tem acontecido, vai ser uma privatização por dentro.

A educação tem muito dinheiro e eu creio que o Etapa, o Objetivo, o Positivo, essas empresas de educação, vão querer entrar nas escolas, então vai ser uma privatização por dentro, vão manter os professores, eles viram um mero dador de aula.
Então todo esse sucateamento da educação que tem acontecido, é proposital para privatização, e acredito que é possível a gente resgatar isso com a ajuda da população, e de quem acredita no nosso trabalho.

O professor não é nada disso que estão falando.
Tem uma política aí que diz: “Vamos premiar os professores, a escola que tem o melhor rendimento”. Eu não acredito que o professor é premiado porque ele é um mercenário, ele quer dinheiro, não, a escola pode ter o melhor resultado porque o professor se empenhou para ter, e os alunos também.
Acredito numa escola onde haja cumplicidade entre professor, aluno e uma gestão democrática.

Reportagem da Folha divulgou os resultados de uma pesquisa que aponta falta de professores em 32% das escolas estaduais de São Paulo, principalmente nas áreas de arte, geografia, sociologia e matemática. Mesmo com a convocação de professores temporários que sequer fizeram o exame de avaliação, o problema persiste e muitos alunos já encerraram o primeiro bimestre sem ter aulas em determinadas disciplinas.
“Por meio de nota oficial, a Secretaria Estadual da Educação de São Paulo afirmou que o levantamento feito pela Folha é “enganoso” e não reflete a realidade sobre o quadro de docentes. De qualquer forma, para aprimorar a rede, disse a pasta, será aberto novo concurso público no próximo semestre.”
Quem é da rede estadual sabe que esses dados não estão distantes da realidade. É cada vez menor o número de docentes disponíveis e até mesmo nos vestibulares já percebemos o desinteresse dos estudantes por cursos de licenciatura.


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Alguém neste país ainda limpa a bunda com jornal?